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sábado, janeiro 16, 2016

Psicologia - Frase da semana, 17JAN16: É-SE REFUGIADO POR DESEJO OU NECESSIDADE?

Psicologia - Frase da semana, 17JAN16: É-SE REFUGIADO POR DESEJO OU NECESSIDADE?


«Nenhum pastó abandona a sua terra de livre e espontânea vontade. Ou a abandona por pobreza ou por amor.» (a avó da Malala) (1)

Abandonar a nossa casa foi como sentir o coração ser-me arrancado do peito (...) Pensava que Swat ficaria um dia livre dos talibãs e que festejaríamos, mas agora percebia que isso talvez nunca viesse a acontecer. Comecei a chorar. (...) A cinco de maio de 2009 tornámo-nos IPD. Deslocados internos. Parecia o nome de uma doença. (...) Não sabíamos de alguma vez voltaríamos a ver a nossa cidade. (...) Fiquei horrorizada. Fui murmurar versículos do Alcorão sobre os livros para tentar protegê-los. (...) Tínhamos visto fotografias da devastação (...) o meu pai disse: - "É como se fôssemos os israelitas a abandonar o Egipto, só que não temos nenhum Moisés para nos guiar." (...) Para proteger o 'purdah' (2) das mulheres, os homens das famílias que acolheram refugiados até dormiram fora das suas casas (3) (...) Tornaram-se IPD voluntários. Era um exemplo espantoso da hospitalidade pastó. (...) na viagem de regresso, ao passarmos pelo Pico de Churchill, pelas antigas ruínas na colina e pela estupa budista gigante, vimos o largo rio Swat e o meu pai começou a chorar. (...) Era o dia 24 de julho. (...) Para minha grande alegria, encontrei a minha mochila da escola ainda cheia com os meus livros, e dei graças por as minhas orações terem sido atendidas (...). (4)
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(1) in Eu, Malala, a minha luta pela liberdade e pelo direito à educação. Editorial Presença, 2015, p. 193.
(2) (diz-se das mulheres) segregação ou reclusão. uso do véu.
(3) Comentário pessoal. provocatório: afinal, nem todos os muçulmanos são adeptos do 'rape game', como o que aconteceu em Colónia, na Alemanha, na Passagem do Ano 2015/16.
(4) in Eu, Malala, a minha luta pela liberdade e pelo direito à educação. Editorial Presença, 2015, p. 193-197 e 205-206.

domingo, janeiro 03, 2016

Psicologia - Frase da semana, 03JAN16: VOTO PARA O ANO NOVO?... OBJECTIVO?... DETERMINAÇÃO?... REPTO?...

Psicologia - Frase da semana, 03JAN16: VOTO PARA O ANO NOVO?... OBJECTIVO?... DETERMINAÇÃO?... REPTO?...


«Pedi e dar-se-vos-á; procurai e acharei; batei e abrir-se-vos-á.» (Evangelho de São Lucas, 11:9)

Bem poderia o versículo bíblico ser uma daquelas fórmulas tão caras às estratégias de auto-motivação da Psicologia americana, que o sujeito deve repetir sistematicamente a si-mesmo, ao jeito da "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". (1)
Está explorado até à saciedade o discurso crítico dos frágeis desejos e vãs esperanças do ano novo que se celebra na noite de Passagem de Ano, seja com  a tradição supersticiosa ou não das 12 passas ao som das 12 badaladas. Tanto mais que as 12 badaladas são cada vez mais raras, sendo substituídas por histriónicos vozeirões colectivos, comandados ou não por um qualquer canal de televisão a que se tem os olhos e os ouvidos pregados.
O desenvolvimento (ou sofisticação) destes comportamentos, destes votos, está a trazer cada vez mais psicólogos que, nas mesmas televisões, ensinam como se devem fazer os desejos e como se deve fazer para os concretizar. Pois...
Vive-se, cada vez mais, em celebrações normalizadas, estandartizadas, que sobram em actos e minguam em convicções. Ora seria precisamente esta dimensão de convicção e determinação pessoal que seria interessante cultivar! A Passagem de Ano tem o condão de juntar famílias, juntar amigos, juntar gente anónima, juntar governos; porque não aproveitar a sério a oportunidade? De mais a mais porque logo à meia-noite da Passagem de Ano chega, no calendário oficial do Mundo, a celebração do Dia Mundial da Paz.
2016 é o primeiro ano que entra com o drama da vaga de Refugiados, que tanto se tento negar até ao ano que acabou há dias. É também o primeiro ano que entra com a assumpção oficial dos maiores - e mais poluidores - países do Mundo dos estragos provocados pelas Sociedades Humanas no Ambiente, e no Futuro das novas gerações.
Entramos, pois, num ano, em que todos somos chamados a não fazer mais como tradicionalmente nos habituámos a criticar à pobre avestruz: enfiar a cabeça na areia.
Em 26 de março de 1967, o Papa Paulo VI publica a CARTA ENCÍCLICA 'POPULORUM PROGRESSIO', SOBRE O DESENVOLVIMENTO DOS POVOS, titulando logo ao início que "A QUESTÃO SOCIAL ABRANGE AGORA O MUNDO INTEIRO".
Passaram 48 anos sobre a publicação da encíclica. «Buscai e encontrareis», cita Paulo VI.
Se é verdade que o mundo sofre por falta de convicções, nós convocamos os pensadores e os sábios, católicos, cristãos, os que honram a Deus, os que estão sedentos de absoluto, de justiça e de verdade: todos os homens de boa vontade. Seguindo o exemplo de Cristo, ousamos pedir-vos instantemente: "buscai e encontrareis", abri os caminhos que levam pelo auxílio mútuo a um aprofundamento do saber, a ter um coração grande, a uma vida mais fraterna numa comunidade humana verdadeiramente universal.
A seguir, e mesmo antes da bênção final, diz Paulo VI:
Vós todos que ouvistes o apelo dos povos na aflição, vós que vos empenhais em responder-lhes, vós sois os apóstolos do bom e verdadeiro desenvolvimento, que não consiste na riqueza egoísta e amada por si mesma, mas na economia ao serviço do homem, no pão cotidiano distribuído a todos como fonte de fraternidade e sinal da Providência. 
Quer dizer, meio século de vida tem a encíclica. Mantém todo o sentido e contundência. Passaram 50 anos de votos de Passagem de Ano - O que fizemos? O que vamos fazer?

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(1) Água mole em pedra dura tanto bate até que fura
Significado: A expressão louva a persistência como virtude que vence a dificuldade, ou seja, insista que você consegue.
Histórico: Há registro de dois milênios em Ovídio (43 a.C.-18 d.C.), poeta latino, autor de A arte de amar e Metamorfoses: “A água mole cava a pedra dura.” É tradição de várias culturas formar rimas nesse tipo de oração para facilitar a memorização. Foi o que nós, de língua portuguesa, fizemos com o provérbio. - See more at: http://www.newsrondonia.com.br/noticias/o+verdadeiro+significado+de+alguns+ditados+populares/24351#sthash.ZHiE0KQB.dpuf

sábado, dezembro 26, 2015

Psicologia - Frase da semana, 27DEZ15: BRINCOS PERIGOSOS!

Psicologia - Frase da semana, 27DEZ15: BRINCOS PERIGOSOS!



Rapariga com brinco de pérola, de Johannes Vermeer
«Vai a sair quando ouve um deles murmurar para o outro: «Achas que lhe vai doer?» E o ar de ambos é, de repente, tão infeliz e desamparado, que ela volta atrás e diz: «Não dói nada, estejam descansados!»
E quando o homem lhe sorri desajeitadamente, só por vergonha é que ela não diz à amiga que o achou ligeiramente parecido com o filho mais velho.
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OS BRINCOS
Tinha deixado passar o Natal para tudo estar mais calmo. No último dia do ano, quando muito estariam cheias as lojas de alimentação. A amiga ainda torceu o nariz, que deixasse para depois, que os brincos não fugiam, estivesse ela descansada. Mas ela insistiu: «Não quero entrar no ano novo sem os brincos, pronto!»
Quando chegaram à loja respiraram aliviadas: tirando um casal de noivos a escolher alianças, mais ninguém lá se encontrava.
O empregado logo as atendeu e, de repente, o balcão da ourivesaria brilhava de uma ponta à outra: de um lado, estendiam-se alianças grossas, fininhas, largas, estreitas; do outro, estendiam-se brincos de pérolas, brilhantes, pedras verdes e azuis – embora ela tivesse logo explicado que queria aqueles que estavam na montra, uma pérola e mais nada, iguaizinhos aos que o marido lhe oferecera no dia do nascimento do filho mais velho e que ela deixara roubar numa viagem. Mas isto ela não diz ao empregado, claro.
Foi então que os dois homens entraram. De rompante. Enormes, pele muito escura, barba de muitos dias, o rosto de ambos totalmente encobertos por cachecóis sem cor.
Num segundo os empregados fazem desaparecer brincos e alianças, a noiva fica mais branca do que a parede da loja. A amiga murmura-lhe qualquer coisa como «eu bem não queria vir», e ela começa a sentir a cabeça a andar à roda, virão roubar o quê? trarão pistola?,o que se sentirá quando se leva um tiro?
Os homens avançam rapidamente até ao balcão, cara de poucos amigos, mãos nos bolsos de sobretudos meio esfiapados. «É agora», pensa ela, «daqui não escapo viva», pensa a noiva. «Se ao menos eu soubesse onde está o alarme», pensa o empregado, que é novo e ainda não conhece os cantos à casa.
É então que se ouve um barulho estranho, entre o miar de gato e o piar de ave aflita: meio metro de gente, mal se equilibrando de pé, olhos muito negros e redondos, agarrada ferozmente às pernas do maior dos dois homens que, sem mais rodeios, diz para o empregado, apontando-a: «Fure-lhe as orelhas.»
Começaram todos a sentir-se mais aliviados. Regressam as alianças, regressam os brincos, só a miúda não pára de gemer. «Fure-lhe as orelhas, senhor», insiste o homem, «não quero que ela entre no ano novo sem brincos.»
A miúda desaparece pela mão do empregado, enquanto os dois homens esperam. Enormes, mãos nos bolsos, ar de poucos amigos.
Ela escolhe os brincos, de repente está cheia de pressa de se ir embora, o empregado embrulha, ela paga.
Vai a sair quando ouve um deles murmurar para o outro: «Achas que lhe vai doer?» E o ar de ambos é, de repente, tão infeliz e desamparado, que ela volta atrás e diz: «Não dói nada, estejam descansados!»
E quando o homem lhe sorri desajeitadamente, só por vergonha é que ela não diz à amiga que o achou ligeiramente parecido com o filho mais velho.
(Alice Vieira, “Bica Escaldada”, Casa das Letras, 3.ª ed., 2009, p. 177-8.)