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domingo, fevereiro 09, 2014

Psicologia - Frase da semana, 10fev14, "Errando emenda-se o erro".

Psicologia - Frase da semana, 10fev14, "Errando emenda-se o erro".


http://www.nicolemccance.com/blog/2013/10/20/admit-your-mistakes/
"Os homens geniais não cometem erros. Os seus erros são deliberados e são as portas de entrada das [suas] descobertas."
James Joyce, in Ulisses (1922).

"A man of genius makes no mistakes. His errors are volitional and are the portals to discovery."
James Joyce, in Ulysses. Ulysses (1922) is a novel by James Joyce, written in Trieste, Zurich, and Paris (1914-1921). 


O ditado popular que dá título a este apontamento tem a mesma sabedoria da afirmação produzida pela personagem de James Joyce.
No fundo, a ideia que se pretende transmitir vai ao arrepio do vício que as escolas, os pais e os professores, na sua maioria, inculcam desde muito cedo na cabeça das crianças: que é feio errar. É muito pequena a margem que na vida e sobretudo na escola as crianças e os jovens têm para os erros. Aprendem (que absurdo tão grande!...) a ter medo de errar! Quando o que a escola existe - ou deveria existir - para não ter medo de pensar. E não possível ter um pensamento produtor de conhecimentos sem oportunidade franca de errar!
Quantas vezes as crianças e os jovens têm um pensamento novo, uma ideia diferente, uma forma nunca vista ou pensada de ver as coisas, qualquer coisa apraentemente original, nem que seja apenas para si mesmas; mas logo são tomadas pelo condicionamento educativo: será que é um erro?... será que tem algum interesse?... hum... é melhor ficar calado, é melhor não dizer nada, ainda ralham ou gozam comigo, deixa-me mas é estar caladinho...
Os sistemas públicos de educação e ensino - claramente isso acontece com o nosso, o português - dão cada vez menos margem para os erros; ou seja, no fundo, para a aprendizagem, para a verdadeira aprendizagem, a que resulta da reflexão e da experiência pessoal, do contacto direto e do manejo dos objetos de conhecimento. A organização formal, oficial, das aulas, hoje em dia, impede gravemente o processo básico da aquisição do conhecimento, tal como tão limpidamente mostrado, já há muitos anos, por Jean Piaget: a dinâmica cognitiva da assimilação e da acomodação. O drama, a estreiteza da margem é tanto maior quanto mais se sobe nos degraus da escalada académica. A mais pequena décima de valor na avaliação pode fazer diferença nos resultados escolares finais! É o paroxísmo do absurdo e da negação da aprendizagem livre, motivada, saboreada; e consistente.
Como mudar este estado de coisas? Ousando... Desafiando... Esperando que os professores estejam do mesmo lado.

segunda-feira, junho 24, 2013

Aprender, educar, eduquês


O dr. Nuno Crato, ministro da Educação, vai ter de voltar aos livros, vai ter de estudar mais um bocadinho

BRAVO, NICO!... QUE TEXTO TÃO CLARO, QUE TEXTO TÃO DESAFIANTE PARA AS IDEIAS OFICIAIS DO NOSSO MINISTRO DA EDUCAÇÃO!...

"De acordo com notícia publicada no sítio electrónico do jornal PÚBLICO, em 5 de Junho de 2013, o ministro da Educação e Ciência referiu que é “contra o “eduquês” e as teorias de Jean Piaget”. Quando “questionado sobre o modo como as crianças aprendem, o ministro afasta a ideia do gosto pela aprendizagem”.
http://www.radiocampanario.com/r/index.php/
regional/134-federacao-ps-evora-bravo-nico-na-calha-
para-suceder-a-capoulas-santos

As anteriores palavras devem convocar-nos para uma reflexão séria e construtiva. Pode negar-se o contributo de alguém como Jean Piaget para compreender o que é e como se processa a aprendizagem? Pode negar-se o direito ao prazer de aprender, como se isso fosse incompatível com trabalho, rigor e esforço? Pode estar-se amarrado a pensamentos, cientificamente tão limitados e politicamente tão capturados de preconceitos?

Saberá o autor das palavras citadas anteriormente que o maior prazer de um estudante é sentir que o seu esforço é real, bem sucedido, valorizado e lhe proporciona felicidade quando ele: (i) sente que progride; (ii) coloca as questões certas e procura, criativa e sistematicamente, as suas respostas; (iii) recebe as críticas construtivas e beneficia do contraditório; (iv) é ambicioso nos seus objectivos de aprendizagem; (v) é capaz de inovar, arriscar, pensar fora da caixa e criar o inédito; (vi) tenta, erra e reformula o caminho, avaliando e melhorando as suas decisões; (vii) sente o incentivo e a confiança dos seus professores; (viii) constrói laços nos grupos onde coopera e cultiva a amizade; (ix) sente a vanguarda do conhecimento; (x) sente que tudo o que vive nas escolas e nas aulas contribui para a sua felicidade, como pessoa?

Sabe, sr. ministro, não se pode ordenar a alguém para que aprenda. Simplesmente, não resulta. As escolas não são prisões e a aprendizagem não é um castigo. De facto, aprendemos, mais e melhor, quando alguém nos lidera pelo exemplo, nos conquista pelos argumentos, nos impõe regras e critérios com justiça e equidade, nos incentiva pelos desafios, nos premeia pelos sucessos, nos ajuda nas dificuldades, nos estabelece bitolas ambiciosas, nos torna autónomos, nos ajuda a sentir a felicidade do esforço bem sucedido. Por outras palavras, sr. ministro, aprendemos, mais e melhor, quando nos sabem educar.

As neurociências têm evidenciado a relação entre a emoção e cognição. Na realidade, as palavras que entram directamente para o nosso coração são alavancas mais potentes para trabalharmos e nos sacrificarmos do que as ordens e as directivas, por mais autoritárias que sejam. É por isso que pessoas motivadas trabalham mais e se entregam mais às suas tarefas, projectos e responsabilidades. A aprendizagem, nestas condições, é mais profunda e edificante do que a que resulta exclusivamente da imposição externa.

A educação – tal como a matemática, a psicologia ou a economia – é uma ciência. Convém sermos humildes e aceitarmos o contributo de muitos dos que estudaram e estudam neste campo científico. Não podemos ignorar os contributos de Jean Piaget (o tal da aprendizagem), Georges Snyders (que estudou e escreveu umas coisas acerca da importância da felicidade na educação), António Damásio (que, entre outras coisas, tem estudado a relação entre emoção e cognição), Paulo Freire (para percebermos o que será a felicidade de se aprender a ser gente que conta e que tem direitos) ou Coménio, que, há 375 anos, já defendia uma escola promotora de uma educação global e, consequentemente, de uma sociedade mais justa. Devemos ainda revisitar a Teoria das Necessidades de Maslow, para compreendermos por que é que, hoje, as nossas crianças, mal alimentadas ou oriundas de famílias em grandes dificuldades sociais e económicas, têm muitas dificuldades em aprender a ler ou a calcular. Por último, a leitura de Amartya Sen permite-nos perceber por que é que a actual política de extinção da educação e formação de adultos condenará, irreversivelmente, o nosso país à pobreza.

Acredito que o sr. ministro sabe, certamente, isto tudo, porque teve professores que o fizeram sentir tudo isto. Foram estes professores que nos marcaram e nos ajudaram a construir, como pessoas e profissionais, porque – não nos subtraindo a trabalhos ou sacrifícios – nunca nos negaram o direito ao prazer de aprender.

Eduquês é negar, ignorar ou deixar capturar, por preconceitos ideológicos, a evolução científica na educação e os resultados de estudos científicos rigorosos realizados por instituições nacionais e internacionais credíveis e reconhecidas, acerca dos resultados das recentes políticas educativas em Portugal.

Bravo Nico
Ex- deputado do PS e professor da Univ. de Évora
Público on line, Opinião, terça-feira, 18 Junho 2013, às 00h00
BEIJINHO GRANDE À COLEGA MARIA EDUARDA LUZ PELA PISTA!