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domingo, março 27, 2016

O MAL E O REMÉDIO ESTÃO EM NÓS.

Psicologia - Frase da semana, 27MAR16: O MAL E O REMÉDIO ESTÃO EM NÓS.


"Perdeu-se o senso da solidariedade, o senso cívico, que não deve ser confundido com a caridade. É um tempo obscuro, mas chegará, com certeza, outra geração mais autêntica."
“José Saramago: ‘El mundo se está quedando ciego’”, La Verdad, Murcia, 15 de março de 1994 [Entrevista a Gontzal Díez]. 

Saramago é um, eu diria, um compulsivo pessimista
«Eu sou muito pessimista. Melhor dizendo, o que eu sou é pessimista. Sou dos que dizem “este copo está meio vazio” e não “este copo está cheio pela metade”. A gente tem que viver e encontrar no fundo desse pessimismo uma força que nos mantenha vivos e de pé.» “Yo no entiendo…”, El Mercurio, Santiago do Chile, 20 de novembro de 1994. 
Talvez a escrita seja, como a Psicanálise gosta de dizer, uma forma de Saramago sublimar o opressivo pessimismo.
A celebração da Páscoa, ritualmente, ano após ano, será, no fundo, o renovado compromisso, nem é apenas contra o pessimismo, mas sobretudo contra a derrota da solidariedade, o senso cívico e a caridade. As palavras do Papa Francisco na Via-Sacra da sexta-feira passada vai nesse sentido.
Quanto ao nosso escritor, foi assim que ele falou ao jornalista:
O mal e o remédio estão em nós. A própria espécie humana, que agora nos indigna, se indignou antes e se indignará amanhã. Agora vivemos um tempo em que o egoísmo pessoal tapa todos os horizontes. Perdeu-se o senso da solidariedade, o senso cívico, que não deve ser confundido com a caridade. É um tempo obscuro, mas chegará, com certeza, outra geração mais autêntica. Talvez o homem não tenha remédio, não progredimos muito em bondade em milhares de anos na Terra. Talvez estejamos percorrendo um longo e interminável caminho que nos leva ao ser humano. Talvez, não sei onde nem quando, chegaremos a ser aquilo que temos de ser. Quando a metade do mundo morre de fome e a outra metade não faz nada… algo não funciona. Quem sabe um dia! “José Saramago: ‘El mundo se está quedando ciego’”, La Verdad, Murcia, 15 de março de 1994 [Entrevista a Gontzal Díez].

sábado, março 05, 2016

Psicologia - Frase da semana, 06MAR16: PUXAR PELA IMAGINAÇÃO... É MESMO!

Psicologia - Frase da semana, 06MAR16: PUXAR PELA IMAGINAÇÃO... É MESMO!


«Nenhuma palavra é poética, o que faz que a palavra se transforme em palavra poética é a outra palavra, a que estava antes, a que vem depois.» (José Saramago, in "A esquerda não faz a mínima ideia do mundo", Veintitrés, Buenos Aires, 7 de Fevereiro de 2002, entrevista de Eduardo Mazo)


Tantas vezes que desafio, desafio, e desafio; insisto, insisto, e insisto com os meus alunos para que ousem escrever!... Se deixem escrever!... Que deixem que a palavra seguinte apareça depois da anterior. Uma vez... duas vezes... três vezes... Os alunos - a generalidade das pessoas! - pensam que não são capazes; que não vale a pena. Têm na cabeça que ou se é escritor ou não é. E que é preciso sempre escrever textos grandes; como se fossem grandes caminhadas - e mesmo que a gente diga que também essas começam por um pequeno passo, e depois outro, e depois outro. Às vezes o passeio de uma ponta à outra da minha rua tem tantos motivos para olhar, pensar e escrever!... E são mesmo só duas ou três palavras! O que é preciso é mesmo começar a escrevê-las!
«[A imaginação] pode surpreender-nos, claro que sim. Todos nós que escrevemos sabemos que isso acontece e é o melhor que nos pode acontecer. É quando nos surpreendemos a nós mesmos, quando uma coisa que parecia não estarmos a pensar nela quatro palavras antes e que, quatro palavras depois, aparece. Creio que há um processo que leva alguns a dizer com exagero que o livro se escreve a si mesmo. É claro que não, precisa das mãos, da cabeça, mas há qualquer coisa… que no fundo as palavras se procuram umas às outras. Nenhuma palavra é poética, o que faz que a palavra se transforme em palavra poética é a outra palavra, a que estava antes, a que vem depois.»

domingo, fevereiro 14, 2016

EM DIA DE NAMORADOS, VOLTAR A SABER DIZER NÃO

Psicologia - Frase da semana, 14FEV16: EM DIA DE NAMORADOS, VOLTAR A SABER DIZER NÃO


«O pior que nos pode acontecer é resignarmo-nos a não saber. É preciso aprender a voltar a dizer não, e a interrogarmo-nos porquê, para quê e para quem. Se encontrássemos respostas para estas perguntas, se calhar entenderíamos o mundo.» («José Saramago, consciência de Lanzarote»,  Lancelot. Lanzarote, n.º 896, 22 de Setembro de 2000)

Não sei se Saramago conhecia os trabalhos de René Spitz, um dos autores mais consagrados no campo da Psicanálise e do estudo do Desenvolvimento Infantil.
Para Spitz, o bom/ normal/ desejado desenvolvimento infantil tem três marcas notáveis logo nos primeiros tempos de vida - até aos dois anos. São marcos do desenvolvimento que estão inscritos na matriz genética da condição psíquica e da condição social do seu humano.
A resposta/ reacção do não, precisamente por volta dos dois anos, é o terceiro desses marcos fundamentais. O bebé claramente passa a dizer não, até às pessoas de quem gosta muito, que aprendeu a amar acima de tudo. É um sinal de autonomia do pensamento e da vontade; e da confiança no Outro - sim, da confiança no Outro.
Lamentavelmente, todo o processo educativo subsequente - com especial rigor na culturas que atribuem uma sacrossanta importância à escola, tal como a conhecemos na nossa sociedade - é um processo de domesticação da criança, de anulação do advento de essa tão saudável marca do desenvolvimento humano.
Por que digo eu "Não sei se Saramago conhecia os trabalhos de René Spitz"? É porque Saramago diz «aprender a voltar a dizer não». Ele sabe, por estudo, reflexão ou intuição, que todos nós já soubemos, um dia, dizer não.
No livro "José Saramago e as suas palavras", edição e selecção de Fernando Gómez Aguilera, entre as páginas 399 e 401, coleccionam-se 12 afirmações de Saramago sobre o não. Vale bem a pena lê-las todas. Por agora, só mais uma:
«A palavra de que eu gosto mais é não. Chega sempre um momento na nossa vida em que é necessário dizer não. O não é a única coisa efectivamente transformadora, que nega o status quo. Aquilo que é tende sempre a instalar-se, a beneficiar injustamente de um estatuto de autoridade. É o momento em que é necessário dizer não. A fatalidade do não - ou a nossa própria fatalidade - é que não há que nenhum não que não se converta em sim. Ele é absorvido e temos que viver mais um tempo com o sim.» 
Ah, pois, o Dia dos Namorados. Pois é, comecei por aí.
É que são cada vez mais preocupantes - não obstante os avisos, a informação disponível e as campanhas de prevenção - os sinais de comportamentos violentos e doentios nas relações de namoro. E por que fracassam a informação, os avisos e a prevenção? Porque no nihilismo das sociedades materialistas e consumistas que comodamente alimentamos ganha força e espaço o que Hannah Arendt consagrou na expressão "banalização do mal". Pior! Certos tipos de mal estão a "ganhar estilo" entre os jovens, que exibem tais "estilos" por todo o lado - e não apenas nas redes sociais da Internet. E porquê? Porque a Educação está a falhar seriamente.
Um estudo actual, quentinho, quentinho, sobre o tema pode ser encontrado a partir daqui.