domingo, julho 26, 2015

Psicologia - Frase da semana, 26JUL15: NO DIA DOS AVÓS, O "HOMO HOMINI LUPUS"

Psicologia - Frase da semana, 26JUL15: NO DIA DOS AVÓS, O "HOMO HOMINI LUPUS"


William Bouguereau (1825-1905) Dante et Virgile
(Virgilio e Dante conversam enquanto
um homem devora outro homem.)
«O homem é o lobo do homem.»
(anónimo, "Um Mulher em Berlim, Asa, 2014, p. 196)
Qual ironia, qual absurdidade, as Culturas Humanas puseram às costas de um animal profundamente gregário, a maldade que, afinal, é tão intrinsecamente humana. Até nos contos infantis tradicionais, o lobo é o mau da fita.
Parece haver consenso na atribuição da autoria da afirmação: Plautus, em Asinaria, escreve: "Lupus est homo homini, non homo, quom qualis sit non novit".
A fórmula reduzida, se calhar, é bem mais verdadeira - é que Plautus ainda punha uma condição: a da maldade do homem se exercer sobre o Outro que o homem não conhece. A experiência dos homens, a experiência das culturas, a experiência das civilizações tem mostrado que, infelizmente, não é só na condição do Outro desconhecido.
São as culturas dos grupos humanos que produzem a "lobalização" do homem.
Celebra-se  neste dia do calendário, no Brasil e em Portugal, o Dia dos Avós. Embora as raízes pareçam cristãs, quantas celebrações os cristãos penduraram em rituais mais ancestrais que eles? Por isso, quanto às origens, não trago tese...
Penso que a celebração é mais forte no Brasil do que em Portugal. Mais uma vez, desta questão não faço tese.
Oportuno parece-me ser um texto que li há um ou dois dias. É um excerto do livro que já trouxe no apontamento anterior, e do qual também retirei a máxima de Plautus (a forma reduzida). É sobre a maneira de tratar os velhos, que fazem a quase totalidade dos avós; e sobre como alguns deles conseguem ir um pouco além do sofrimento resignado:
SEGUNDA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 1945 [em Berlim, logo após a ocupação pelas tropas russas, no final da Segunda Grande Guerra]
 [...] Cerca das seis da tarde, empreendo a longa caminhada de regresso a casa. As ruas estavam cheias de pequenas caravanas de gente cansada. De onde vêm? Para onde vão? Não sei. A maioria dos grupos dirigia-se para leste. Os veículos assemelhavam-se todos: miseráveis carrinhos de mão sobrecarregados com sacos, caixas, malas de viagem. À frente vai uma mulher, ou o filho mais velho, que com a ajuda de uma corda puxam o carrinho. Atrás seguem crianças ou o avô, que empurram. Em cima do amontoado do carrinho, vejo ainda outros seres humanos: crianças muito pequenas ou pessoas idosas. Estes idosos, sejam homens ou mulheres, têm um aspecto terrível no meio de todos aqueles trastes. Pálidos, decrépitos, já meio mortos, semelhantes a molhos de ossos. Nos povos nómadas, como os lapões ou os índios, os velhos costumavam enforcar-se numa árvore quando já não tinham qualquer préstimo, ou esconder-se na neve para morrer. A civilização cristã carrega-os consigo enquanto respiram. Muitos deles terão de ser enterrados na berma da estrada.
«Honrai os vossos velhos.» De acordo, mas não em fuga sobre carrinhos de mão. Não é o local ou o momento propícios para isso. Pus-me a reflwctir sobre a posição social dos velhos, sobre o valor e a dignidade daqueles que viveram longo tempo. Outrora, eram os senhores da propriedade. Mas no meio das massas sem posses, às quais a maioria pertence nos dias que correm, a velhice não tem qualquer valor. Já não é venerada, mas apenas digna de compaixão. No entanto, é justamente essa posição ameaçada que incita os velhos e atiça a sua vontade de viver. O desertor do nosso prédio contou à viúva que tinha de esconder da sogra tudo o que fosse comestível. Ela rouba sempre que pode e come tudo às escondidas; devora sem quaisquer escrúpulos as rações da filha e do genro. Se lhe dizem alguma coisa, começa a lamentar-se afirmando que querem matá-la à fome, ou até assassiná-la, para herdar o seu apartamento... E, assim, respeitáveis matronas transformam-se em animais, agarrando-se ao que lhes resta de vida.» (pp. 273-4)
Na minha mente, entretanto, tenho hoje os meus alunos que, com evidente carinho, têm feito os seus trabalhos monográficos sobre os seus avôs; e tenho também a Mariana e a Marilene, primas que na distante Bahia vão hoje celebrar especialmente, muito carinhosamente, os avós e os idosos.

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