quarta-feira, maio 31, 2006

O mais importante é cuidar da seara e do trigo

Cheguei ontem de Itália. Estive em Pesaro, num convénio internacional, onde apresentei uma breve comunicação sobre uma experiência de formação de professores, que realizei com a minha colega Edite Esteves. A ideia central da acção de formação era fazer compreender a importância do uso das representações mentais, em si mesmas focalizadas, na promoção do sucesso educativo e na promoção da "boa" educação intercultural.
Depois da manifestação fantástica que assisti naquela pequena cidade italiana, em que toda a comunidade participou activamente e alegremente numa enorme festa final do ano escolar, manifestação que começou no dia 25 e vai acabar no dia 9 do mês que amanhã começa (3 semanas de festa!); depois da quase finalizada leitura do livro de Seymour Papert (sereno, optimista, audaz), chego a Portugal e recebo, de chofre, em cima de mim, a - posso dizê-lo - brutalidade das notícias do que acontece no reino da educação do nosso País, que, no meu entender, explicitamente apresenta o carácter público de uma luta degradante e humilhante desencadeada pela nossa actual Ministra da Educação sobre os professores.
Com muito esforço me contenho agora, em que apenas desfiarei uma conta de um grande rosário que me apetecia desfiar na totalidade. É um pequeno apontamento que pus hoje no fórum da cadeira:
Até que ponto a escola de que Papert fala, a escola que ele tem na cabeça, tem a ver com a escola que nós temos na cabeça... com a escola que nos dá dores de cabeça?A escola de que eu falo é a escola que temos hoje em dia no nosso País, com as convulsões a que temos assistido no presente e numa série de outros anos e outros governos anteriores.Onde é que nos sentimos bem a mudar as coisas? Em nossas casas, as coisas que são nossas. Regra geral, somos capazes de gerir o tempo, os recursos, o aproveitamento do velho e a introdução do novo. É isso que conseguiremos fazer na escola quando sentirmos que a escola tem qualquer coisa de nosso e que somos respeitados e reconhecidos pelas coisas que fazemos. Estamos a precisar de um "contrato social" entre professores, encarregados de educação, ministros e secretários de estado. Pessoalmente, não faço a mínima ideia do valor que, seja a curto, a médio e a longo prazo, será atribuído ao meu trabalho e empenho de hoje. E não tenho idade, nem meios, nem condições de vida para liderar revoluções por dentro.
Pronto. É melhor ficar por aqui, para ver se não entro pelos tradicionais discursos miserabilistas!
Uma coisa será o meu eventual drama pessoal. Outra coisa bem mais grave será a condição a que os responsáveis políticos do nosso País têm, pouco a pouco, confinado todos os professores.
Somos, naturalmente, enquanto classe profissional, searas de trigo e joio.
Mas o mais importante é preservar a seara e cuidar do trigo. Não é flagelá-los como se de joio se tratasse.

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