quarta-feira, maio 17, 2006

Afinal, sabes ou não sabes marcar um penálti?

A propósito da última aula (presencial, em 12/05/06):
Que diríamos nós de um médico que não soubesse para si o funcionamento do sistema digestivo ou do coração? Que diríamos nós se um engenheiro não soubesse explicar o efeito da ferrugem numa construção à base do ferro? Que diríamos nós ? … se um jogador de futebol que fosse jogar a final da Liga dos Campeões em futebol, na perspectiva de as equipas terem de fazer um desempate por grandes penalidades, só por ver os colegas marcarem penáltis no treino dissesse: "O.K., mister, já sei como é, não preciso de marcar."
Que diríamos nós se um psicólogo, professor ou educador não souber minimamente explicar o funcionamento da memória numa nova aprendizagem?
Que dizemos nós dos nossos alunos quando lhes procuramos ensinar alguma coisa e ele, como que em resultado de uma qualquer perícia mental mágica, ao primeiro contacto com o tema que estamos a abordar, se distrai, pede outra coisa porque aquilo já percebeu. "Então?...." "Deixe estar, setôr, já percebi, agora em casa faço o resto."
Quem vê os comportamentos de aprendizagem pela óptica da perspectiva da auto-regulação, sabe, ou tem ideia, de que uma postura de aprendizagem deste tipo necessita de esforçados progressos a respeito de automonitorização, controlo volitivo e auto-reflexão.
A tecnologia informática tem toda a paciência do mundo para esperar pelos nossos desenvolvimentos pessoais e pelos nossos erros, por mais repetidos que sejam.
Seymour Papert, autor que, em boa hora, o Professor Fernando Costa nos trouxe ao conhecimento [Pelo menos para mim foi uma muito agradável novidade!], diz, numa das suas obras: O modo de alguém adquirir fluência em tecnologia é semelhante ao modo de adquirir fluência numa língua. A fluência vem com a utilização (...), isto não significa que não se cometam erros. (Papert, A Família em Rede, Relógio d’Água, 1997).
Ora, utilizar não é resolver mentalmente, virtualmente, por projecção ou por antecipação mental de qualquer coisa que ainda nunca se fez. Qual é o jogador de futebol que não sabe, por antecipação mental, marcar o penálti perfeito?

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