domingo, fevereiro 14, 2016

EM DIA DE NAMORADOS, VOLTAR A SABER DIZER NÃO

Psicologia - Frase da semana, 14FEV16: EM DIA DE NAMORADOS, VOLTAR A SABER DIZER NÃO


«O pior que nos pode acontecer é resignarmo-nos a não saber. É preciso aprender a voltar a dizer não, e a interrogarmo-nos porquê, para quê e para quem. Se encontrássemos respostas para estas perguntas, se calhar entenderíamos o mundo.» («José Saramago, consciência de Lanzarote»,  Lancelot. Lanzarote, n.º 896, 22 de Setembro de 2000)

Não sei se Saramago conhecia os trabalhos de René Spitz, um dos autores mais consagrados no campo da Psicanálise e do estudo do Desenvolvimento Infantil.
Para Spitz, o bom/ normal/ desejado desenvolvimento infantil tem três marcas notáveis logo nos primeiros tempos de vida - até aos dois anos. São marcos do desenvolvimento que estão inscritos na matriz genética da condição psíquica e da condição social do seu humano.
A resposta/ reacção do não, precisamente por volta dos dois anos, é o terceiro desses marcos fundamentais. O bebé claramente passa a dizer não, até às pessoas de quem gosta muito, que aprendeu a amar acima de tudo. É um sinal de autonomia do pensamento e da vontade; e da confiança no Outro - sim, da confiança no Outro.
Lamentavelmente, todo o processo educativo subsequente - com especial rigor na culturas que atribuem uma sacrossanta importância à escola, tal como a conhecemos na nossa sociedade - é um processo de domesticação da criança, de anulação do advento de essa tão saudável marca do desenvolvimento humano.
Por que digo eu "Não sei se Saramago conhecia os trabalhos de René Spitz"? É porque Saramago diz «aprender a voltar a dizer não». Ele sabe, por estudo, reflexão ou intuição, que todos nós já soubemos, um dia, dizer não.
No livro "José Saramago e as suas palavras", edição e selecção de Fernando Gómez Aguilera, entre as páginas 399 e 401, coleccionam-se 12 afirmações de Saramago sobre o não. Vale bem a pena lê-las todas. Por agora, só mais uma:
«A palavra de que eu gosto mais é não. Chega sempre um momento na nossa vida em que é necessário dizer não. O não é a única coisa efectivamente transformadora, que nega o status quo. Aquilo que é tende sempre a instalar-se, a beneficiar injustamente de um estatuto de autoridade. É o momento em que é necessário dizer não. A fatalidade do não - ou a nossa própria fatalidade - é que não há que nenhum não que não se converta em sim. Ele é absorvido e temos que viver mais um tempo com o sim.» 
Ah, pois, o Dia dos Namorados. Pois é, comecei por aí.
É que são cada vez mais preocupantes - não obstante os avisos, a informação disponível e as campanhas de prevenção - os sinais de comportamentos violentos e doentios nas relações de namoro. E por que fracassam a informação, os avisos e a prevenção? Porque no nihilismo das sociedades materialistas e consumistas que comodamente alimentamos ganha força e espaço o que Hannah Arendt consagrou na expressão "banalização do mal". Pior! Certos tipos de mal estão a "ganhar estilo" entre os jovens, que exibem tais "estilos" por todo o lado - e não apenas nas redes sociais da Internet. E porquê? Porque a Educação está a falhar seriamente.
Um estudo actual, quentinho, quentinho, sobre o tema pode ser encontrado a partir daqui.

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