“José Saramago: ‘El mundo se está quedando ciego’”, La Verdad, Murcia, 15 de março de 1994 [Entrevista a Gontzal Díez].
Saramago é um, eu diria, um compulsivo pessimista
«Eu sou muito pessimista. Melhor dizendo, o que eu sou é pessimista. Sou dos que dizem “este copo está meio vazio” e não “este copo está cheio pela metade”. A gente tem que viver e encontrar no fundo desse pessimismo uma força que nos mantenha vivos e de pé.» “Yo no entiendo…”, El Mercurio, Santiago do Chile, 20 de novembro de 1994.
Talvez a escrita seja, como a Psicanálise gosta de dizer, uma forma de Saramago sublimar o opressivo pessimismo.
A celebração da Páscoa, ritualmente, ano após ano, será, no fundo, o renovado compromisso, nem é apenas contra o pessimismo, mas sobretudo contra a derrota da solidariedade, o senso cívico e a caridade. As palavras do Papa Francisco na Via-Sacra da sexta-feira passada vai nesse sentido.
Quanto ao nosso escritor, foi assim que ele falou ao jornalista:
O mal e o remédio estão em nós. A própria espécie humana, que agora nos indigna, se indignou antes e se indignará amanhã. Agora vivemos um tempo em que o egoísmo pessoal tapa todos os horizontes. Perdeu-se o senso da solidariedade, o senso cívico, que não deve ser confundido com a caridade. É um tempo obscuro, mas chegará, com certeza, outra geração mais autêntica. Talvez o homem não tenha remédio, não progredimos muito em bondade em milhares de anos na Terra. Talvez estejamos percorrendo um longo e interminável caminho que nos leva ao ser humano. Talvez, não sei onde nem quando, chegaremos a ser aquilo que temos de ser. Quando a metade do mundo morre de fome e a outra metade não faz nada… algo não funciona. Quem sabe um dia! “José Saramago: ‘El mundo se está quedando ciego’”, La Verdad, Murcia, 15 de março de 1994 [Entrevista a Gontzal Díez].
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