quarta-feira, outubro 17, 2018

A VIOLÊNCIA DE OBRIGAR OS NETOS A BEIJAREM OS AVÓS

A VIOLÊNCIA DE OBRIGAR OS NETOS A BEIJAREM OS AVÓS... e a muito rasgada bandeira de "a minha liberdade acaba onde começa a liberdade do Outro".

É verdade isto que se diz da liberdade individual: a minha liberdade acaba onde começa a liberdade do Outro. O que está errado, é perverso e desonesto é usar a boa frase a propósito de tudo, por exemplo, de coisas que não sabemos e de coisas que pensamos erradamente.

Felizmente, quando os acirrados faladores põem o último trunfo em cima da mesa, é o mesmo nas mãos de todos: o ás da Educação. Sim, a Educação é a acção relacional (que nem sequer é exclusivamente humana) determinante. É o alfa e o ómega da solução dos problemas. Bem, o problema é que a Educação não é bem o mesmo para todos, é como se cada um jogasse com um baralho diferente, e o meu ás é diferente do teu, e o teu do outro, e assim sucessivamente.

E nesta inevitabilidade vai-se para os canais de televisão e dizem-se umas coisas sobre Liberdade, Violência, Diferenças, Homens, Mulheres; Estatísticas aos molhos, Estudos e Investigações às carradas. Tome-se nota: cada vez mais, com radicalismo, intolerância, violência e sobranceria - que são "virtudes" que dizem muito sobre... pois, sobre a educação recebida por cada um dos palradores em pequeninos - ou mesmo mais crescidinhos. É à família que cabe, no mínimo, mais de metade do baralho da educação; o resto é escola, comunidade, nação e por aí fora. É assim que deve ser, e todos, a começar pela escola, devem respeitar que seja assim.

No Prós e Contras de 2.ª-feira, um "sábio" professor universitário falou sobre a violência de obrigar os netos a beijarem os avós e nas bem nefastas consequências que isso acarreta: é por isso que, entre outras coisas, crescidas, as jovens e as mulheres não sabem dizer não ao assédio, assim concluiu ele “convincentemente” — pelo menos ele parecia saborosamente convencido disso.

Numa aula eu diria aos meus alunos que estaríamos na presença de um bem claro caso de opinião sustentada em muitas crenças e poucas informações. É, o senhor professor universitário tem de continuar a estudar - e muito! Vê-se que é inteligente, que já leu muito, que consegue criar e deduzir; pronto, está no bom caminho, mas ainda tem muito que andar.

Dir-me-ão: "Ah!, mas o Professor Coimbra de Matos, velhinho, deu-lhe razão!" Sim, pareceu que sim; mas o Professor Coimbra de Matos conheço eu bem, muito procurei eu sempre aprender com ele, logo a partir dos tempos em que ele escrevia e ensinava com um radicalismo e violência verbal que não encontrei em qualquer outro professor. Desde há 40 anos. Não me tornei radical como ele, mas apreciei muito a sua evolução discursiva no sentido da moderação e da tolerância — que nos faz bem a todos.

Posso concordar que é uma violência obrigar os netos a beijarem os avós — na condição de que se caracterizem os actos de “violência” e de “obrigar”. A questão essencial passa, na minha opinião, pelo estafado uso da tal frase da liberdade minha e do outro, que é usada qual manto diáfano que cobre a verdade do que está em causa: o ser humano é um indivíduo eminentemente social.

A vivência social pede, na sua natureza, LIBERDADE para interagir, mas também COMPROMISSO com a família e a cultura. E a Cultura não é apenas um conjunto de amarras de que as novas “sabedorias” nos ensinam e ajudam e libertarmo-nos.

O grande erro é ignorar que a generalidade dos ritos, rituais e convenções sociais são compromissos, a maior parte deles milenares, no sentido de conterem a agressividade e a violência que me destrói a mim, destrói o Outro e põe em risco a sobrevivência do grupo humano a que cada um de nós pertence. É, o que muito modernamente se teme é a exigência do compromisso.

Quem sabe, vivemos tempos do pan-niilismo do “Vive e deixa viver” — que é o terreno de acção mais desejado por quem, do alto da Política e da Finança, nos (des)governa.

A única coisa que verdadeiramente derrota a violência mascarada e sem rosto dos poderosos é o compromisso do acordo e do contrato dos indivíduos-cidadãos. E a EDUCAÇÃO DO COMPROMISSO, quem melhor do que os avós para sabiamente a guiarem junto dos netos (que são indivíduos, que são crianças, que são cidadãos)?

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