domingo, junho 28, 2015

Psicologia - Frase da semana, 28JUN15: O QUE É A EUROPA?, A REBOQUE DOS ACONTECIMENTOS ACTUAIS

Psicologia - Frase da semana, 28JUN15: O QUE É A EUROPA?, A REBOQUE DOS ACONTECIMENTOS ACTUAIS (influenciar a percepção individual da informação, contra-informação e desinformação que os meios de comunicação social veiculam) 


“Na velha Europa, começamos a ver, hoje, na América de há vinte anos atrás, a nossa própria imagem, a imagem do nosso próprio destino e, porventura ou desgraça, a imagem do destino do Planeta.” P. Manuel Antunes, em 20 de Abril de 1969.

Continua assim o autor:
A americanização do Antigo Continente inscreve-se já, largamente, na ordem dos factos.
E não é apenas na organização económica, na gestão das empresas e na mitologia do consumo, é também na tecnocracia das human relations e das public relations.
Assiste-se, em nossos dias, a um fenómeno análogo àquele que se verificou há mais de dois mil anos na área cultural do Mediterrâneo. «A Grécia vencida venceu, por sua vez, o seu fero vencedor», na frase célebre de Horácio. Mas o que o autor da Epistola ad Pisones não diz, decerto porque não chegou a presenciá-lo, é que o antigo vencido-vencedor terminou finalmente vencido, imitando certos costumes e revestindo uma certa mentalidade do povo dominador, ao tempo, pela superioridadeda sua técnica, da sua política, da sua administração e até, a partir de dado momento, da sua cultura.
Somos hoje, com relação ao novo Império Romano da outra margem do Atlântico, uma velha Grécia. Para bem e para mal. Vencidos-vencedores, começamos a ser submergidos por muitas coisas - umas desejáveis, indesejáveis outras - que lá tiveram o seu ponto de origem ou, quando menos, de desenvolvimento. O homo mechanicus, essa peça-mestra da «multidão solitária» pertence a esse número.
A seguir o P. Manuel Antunes explica o que é a "multidão solitária"
"Que é a «multidão solitária»? Simplificando muito e combinando as análises e as expressões de David Riesman e de Herbert Marcuse, diremos que a multidão solitária é um conglomerado ou um conjunto de homens unidimensionais numa sociedade multidimensional; de homens funções de uma rede complexíssima cujo valor é medido exclusivamente pela competência técnica e pela capacidade de manipular tanto as coisas como os seus semelhantes; de homens hetero-determinados, como lhes chama David Riesman, cheio de substância teórica e de substância empírica e de nada mais.
É contra o universo serial da «multidão solitária», ou contra o pavor da sua implantação, que procuram reagir, que vão procurando reagir, na América e no Velho Continente, grupos cada vez mais numerosos, sobretudo de jovens.
Portadores de carências afectivas profundas, esses jovens tentam preenchê-las, como se diz, pelos meios de bordo. Conhecemos alguns que recorrem à mecânica, em âmbitos restritos, do erotismo colectivo mais desenfreado. Conhecemos outros que, sem entrarem por tais excessos, procuram em certas «afinidades electivas» e sentimentais mais ou menos sãs, estabelecidas em pequenos grupos, a dimensão de humanidade que não encontram nas próprias famílias e que o mundo social mais vasto também não lhes oferece. Conhecemos ainda outros que recorrem aos paraísos artificiais da droga, para se evadirem de um universo «concentracionário» ou «contestacionário» que nem numa nem noutra forma os satisfazem.
Numa palavra, instáveis, buscam no limitado das relações e no seu estreitamento, até a uma forte intimidade colectiva e repartida, a estabilidade que, dia após dia, sentem fugir-lhes debaixo dos pés.
Parece difícil aceitar que todos esses caminhos de fuga ao peso da «multidão solitária» sejam realmente, e a longo prazo, caminhos de liberdade ou de libertação. Mas não haverá outros? Decerto que sim. O que importa é procurá-los e segui-los. Para isso existe ou deve existir a legião dos pais que o saibam ser, dos educadores desinteressados e dos psicólogos equilibrados.
Na espantosa mutação de que estamos a ser, a um tempo, espectadores e agentes, seria profundamente de lamentar que se salvassem as coisas e se perdessem os homens."

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