domingo, junho 07, 2015

Psicologia - Frase da semana, 07JUN15: OS TRABALHOS MONOGRÁFICOS, O CAPÍTULO DOS AGRADECIMENTOS E A EXPRESSÃO DA GRATIDÃO.

Psicologia - Frase da semana, 07JUN15: OS TRABALHOS MONOGRÁFICOS, O CAPÍTULO DOS AGRADECIMENTOS E A EXPRESSÃO DA GRATIDÃO.


Este texto é especialmente dedicado a uma querida aluna que muito, muito recentemente, me dizia que não incluiria um capítulo de agradecimentos no seu trabalho monográfico, porque não tinha ninguém  a quem agradecer.


“A Gratidão não é apenas a maior das virtudes, é também a mãe delas todas.” Marcus Tullius Cicero

“Gratitude is not only the greatest of virtues, but the parent of all others."

A escritora Pearl Buck, quando um dos seus filhos lhe perguntou se, mesmo que não sentisse arrependimento ou sentimentos de culpa, deveria ou não pedir desculpa, ela respondeu-lhe que sim; se muitas vezes o dissesse,  aos poucos começara a sentir, muito sinceramente, o que ao princípio apenas fazia por dever ou obrigação moral; e que isso fazia bem na relação das pessoas umas com as outras.
Apetece-me plagiar a ideia da escritora a propósito da gratidão.
Hoje de manhã, saía eu à pressa de casa para ir para a escola ajudar a arrumar as tralhas e a limpar o espaço da festa de ontem dos antigos alunos, cruzei-me com um casal de velhos vizinhos. O senhor levava pela mão a esposa, senhora a quem o Alzheimer vai levando a lucidez e o reconhecimento das pessoas suas amigas.  À aproximação recíproca logo o senhor me chamou a atenção, com uma piscadela de olho e um olhar especial, em direcção à sua companheira de tantos anos, para o estado mental da minha antiga vizinha.
A senhora reconheceu-me e, como sói dizer-se [Ui! Que expressão tão antiga, que agora raramente se usa,,,], demos dois largos e muitos saborosos dedos de conversa, imagine-se, sobre cães e gatos, os grandes animais de companhia nos lares de tanta gente.
Nem o mais leve sinal da terrível doença da boa senhora! Prolonguei o que pude a conversa - estava a ser tão agradável! -, até porque tive a sensação de que o senhor por momentos se esqueceu do estado mental da sua querida esposa; e seguramente faria bem à ternurenta senhora.
Ali ficámos até que a certa altura - repito, passado um bom par de minutos - o meu velho vizinho, de idade igual à minha mãe, estendendo-me a mão para o tradicional cumprimento, me diz "Aqui os velhotes já lhe tomaram muito tempo, são horas do senhor ir à sua  vida". A seguir despedi-me da senhora que me olhou bem nos olhos e com um sorriso largo, muito carinhoso, me disse "Obrigado por este bocadinho de tempo tão agradável!" Exactamente assim!
Entrei no metropolitano e, na cancela, o sistema de controlo avisou-me que eu teria de fazer o recarregamento do cartão, o que me fez perder a composição que estava a chegar e obrigou-me a esperar pela seguinte - mais 8 minutos de atraso para chegar onde devia ter chegado há muito!...
Pois bem, em vez de perder, ganhei. Aquela "perda" de tempo deu-me oportunidade de me reencontrar com um "velho" aluno, e logo lhe contei o encontro de momentos antes. Ele disse-me "O stor faz bem a toda a gente, anda sempre nisso". "Estás enganado - respondi-lhe eu -, eu é que deveria ter agradecido à senhora e ao senhor, eles é que me fizeram bem, mais uma vez me mostraram que a gratidão é rápida, custa pouco e sabe bem; se a treinarmos, torna-se fácil e torna-se poderosa - faz as pessoas sentirem-se bem e melhora as relações sociais. Uma senhora com Alzheimer... e deu-me uma lição de vida! Enquanto a doença não levar da senhora o que ela ainda tem de lucidez e bondade será sempre agradável estar ao pé dela."
A composição do metro parou nos Olivais. Demos aquele abraço, eu saí e ele continuou - nem fiquei a saber para onde ele ia; também não interessava. Antes da porta da carruagem fechar, ele levantou a voz e gritou-me "Obrigado por este pedacinho de tempo tão agradável!" . Voltei-me para trás e acenei-lhe à pressa como pude.  É verdade, eu fiquei bem, ele foi bem à sua vida - quer dizer, o pedacinho de gratidão que a minha querida vizinha me deixou nas mãos logo começou a espalhar a sua tão grande riqueza afectiva, a sua tão grande carga de humanidade.

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