segunda-feira, abril 17, 2006

De volta a um grande inspirador das pedagogias modernas

O meu envolvimento no Mestrado tem-me obrigado a reler algumas obras (do neurologista português António Damásio, por exemplo) e a ler outras (que nunca tinha lido, portanto, caso das obras do Professor OrlandoLourenço). São obras de alguma envergadura, direi mesmo, de alguma monumentalidade. No caso deste último autor, obras sobre a teoria construtivista de Jean Piaget.
Reportando-me à aula de hoje, é particularmente saboroso para mim falar de Piaget, de computadores e aplicações informáticas. Enquanto aluno da licenciatura em Psicologia, o autor que tomámos conhecimento como sendo o que mais directamente tinha a ver com os computadores era Skinner, que tem muito de sabedor, tem muito de dedicado à aprendizagem, mas não tem a perspectiva construtivista de Piaget. Tem uma perspectiva que quase poderíamos situar nos antípodas!
Os recursos tecnológicos fazem-nos dispor de instrumentalidades e metodologias rigorosas, que mediatizam as observações, as quantificam e as padronizam. Se nos lembrarmos que Piaget fundou o edifício teórico do desenvolvimento cognitivo com base, pura e simplesmente, na observação a olho nu, é saboroso, repito, constatar que, sendo nós possuidores de instrumentalidades (que, no tempo dele, algumas nem se imaginavam ainda) tão sofisticadas, afinal, é ainda aos ensinamentos dele que teremos de ir buscar as bases que sustentarão os nossos edificiozinhos.
"Tudo o que se ensina à criança é um obstáculo à sua capacidade de descobrir e inventar", disse Piaget a J.-C. Bringuier, por volta de 1977. E disse-lhe ainda mais: "É ao pedagogo que compete ve como é que pode utilizar aquilo que lhe é oferecido."
Ora eu penso que a aula de hoje com o Professor Fernando Costa teve o condão de nos trazer alguns alertas, do género, Não se esqueçam, o aluno é que aprende, não é o computador que ensina. Ou do género A nossa arte não está em termos muitos conhecimentos para passar aos alunos, mas sim na maneira como conseguimos que os alunos tenham vontade de vir ter connosco para os conhecer, explorar e assimilar.
Fazer estas coisas - educar, ensinar, informar - de forma mediatizada, através de aplicações informáticas, tem vantagens e tem escolhos. As vantagens têm a ver, por exemplo, com a possibilidade que nos dá de criarmos um pouco mais de distância em relação aos conteúdos e ao próprio aluno e, desta forma, ganhamos campo de visão para observar melhor. Os escolhos, por seu lado, terão a ver com, ao invés, o maior distanciamento pessoal em relação a momentos críticos de aprendizagem em que uma palavra, uma sugestão da nossa parte pode ser um elemento indutor de um salto em frente significativo na aprendizagem do aluno. Sim, na verdade o nosso papel de educadores, mesmo numa perspectiva piagetiana, não se reduz ao de um simples papel de assistente passivo de alunos que "automaticamente" se põem em marcha num processo sempre harmonioso de construção progressiva da inteligência e do conhecimento.
Na educação há espaço para a actividade do aluno, há espaço para para o professor também activo e inteligentemente empenhado. E há espaço para as tecnologias. Saibamos nós pedir-lhes o que está realmente ao alcance de tais instrumentalidades.

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